sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma violência chamada FUNK

Olá, amigo leitor.
Começo com um desabafo em favor da civilidade, do respeito e da sensibilidade humana. Segue texto que estou elaborando, não necessariamente para envio às autoridades competentes, visto que se contribuir para um pouco de conscientização e bom senso, já valerá a pena:

Carta aberta ao Sr. Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Prezado senhor Secretário,
É com extrema indignação e tristeza que venho à presença de vossa senhoria comunicar fatos absurdos de violência e desrespeito à cidadania e ordem pública. Sou morador de área de periferia urbana, localizada na capital da cidade de São Paulo. É comum que essas regiões careçam de melhor infraestrutura e investimentos nas áreas da educação, saúde e lazer, mas não são esses, em instância, os motivos que me trazem à presença de vossa senhoria.
Ocorre que, devido à falta de respeito básico e o mínimo bom senso, a convivência entre os habitantes dessas regiões tem se tornado a cada dia mais difícil, tensa e violenta. Pessoas de bem estão sendo violentamente privadas de direitos básicos, como o de ir e vir, o respeito e até a necessidade fisiológica do sono e descanso. Inúmeras pessoas trabalham duro e estudam todos os dias da semana, enfrentando o transporte público precário, o trânsito caótico e o cansaço, para pagar as contas, manter suas famílias e construírem seus lares, que são o seu refúgio, seu “porto seguro” para as poucas horas livres que sobram à noite e aos finais de semana. É nesses momentos que as pessoas tentam descansar e ter um pouco de paz e lazer junto a sua família.
O cidadão de bem já convive há inúmeras décadas com a violência urbana crescente, gerada pelas drogas, corrupção e ingerência pública. Todos esses males, embora sejam por si só inadmissíveis, não agridem, pelo menos de forma sistemática, o direito ao sono e ao descanso. Mas é literalmente impossível manter qualquer atividade laboral diária necessária ao sustento próprio, bem como realizar, em domicílio, estudos universitários ou pesquisas escolares necessários à manutenção de atividade escolar ou acadêmica, sem que o cidadão disponha de condições ambientais adequadas ao seu sono e descanso. A expressão “perturbação do sossego” é insuficiente, é ínfima, soa até cínica ou irônica se for utilizada para descrever o que vem ocorrendo em larga escala por toda a cidade de São Paulo, com maior intensidade nas áreas periféricas. Não vou nem citar as leis constitucionais vigentes acerca do assunto, pois seria perda de tempo e motivo de risos aos transgressores das mesmas.
Som alto, barulho, violência e baderna são algumas palavras que vou utilizar apenas para começar a falar de “funk”. Não é só o barulho, não é só o nível do volume, não é só o desrespeito. É uma gama de comportamentos visíveis nos palavrões, xingamentos, apologias, dialetos, ameaças e gemidos nojentos que são vociferados aos berros nessas… manifestações sonoras. É a atitude agressiva e desrespeitosa de quem invade o espaço, o ouvido e o direito alheio para impor e enfiar “goela abaixo” suas vaidades e futilidades.
Eu não precisaria nem entrar no mérito da qualidade do produto denominado “funk”, pois mesmo o ato de reproduzir música de verdade de qualquer gênero a pleno volume e em qualquer horário, invadindo o espaço e a privacidade alheia, individual ou coletiva, deveria ser considerado crime. No entanto, é no mínimo curioso que a grande maioria das ocorrências referentes à “perturbação do sossego”, por assim dizer, envolva indivíduos que ouvem “funk” (em volume alto ou no nível máximo, sem o uso de fones de ouvidos) no interior de ônibus, estabelecimentos comerciais, órgãos públicos de serviço à população, vias públicas, automóveis (com ou sem caixas acústicas no porta-malas), residências (com as caixas acústicas direcionadas para a rua), etc.
É poluição sonora constante durante todo o dia, pois há no comportamento desses indivíduos a necessidade constante de ostentar, incomodar e agredir a paz e a dignidade alheia por meio dessa prática. Não faz sentido nenhum para esses indivíduos respeitar o “direito alheio de não querer ouvir”, pois o objetivo primordial por trás da “brincadeira do funk” é a vaidade distorcida do status, da ostentação, promiscuidade, transgressão e notoriedade por intimidação, os quais necessitam da reprovação, incômodo e sofrimento alheio para serem alcançados. Ninguém entendeu ainda que não se trata de uma manifestação cultural como tantas outras, que respeita os grupos alheios, as mulheres, as crianças, e requer o mínimo de desenvolvimento intelectual e civilidade.
Salvo a “confraternização social” e “lazer” a que se forja, o “funk” se esforça em propagar o crime, a promiscuidade, a decadência e deturpação moral e ética em vários níveis. Nota-se, pelo conteúdo da expressão e pela forma compulsória e agressiva como a manifestação físico-sonora se dá, o eminente interesse em fazer com que todos ouçam, a qualquer hora do dia ou da noite, agressões gratuitas à sua dignidade, honra, valores e, principalmente, ao direito que cada pessoa tem de “não querer ouvir”. Nunca presenciei tamanha afronta e agressão física e moral contra a pessoa e a família.
A Polícia Militar do Estado de São Paulo recebe inúmeras reclamações relativas a “som alto”, principalmente originadas das áreas mais afastadas do centro da capital. É triste observar como o tratamento dispensado pela Polícia muda de acordo com a região. Na região onde moro, desde 2006 a agressão do “funk” vem crescendo e dominando as noites de sexta-feira e finais de semana a cada ano. O som é cada vez mais alto e agressivo aos moradores, que querem dormir ou desenvolver simples atividades no interior de suas residências. Cancela-se o filme, a leitura, a conversa, o telefonema, o estudo, a visita… cancela-se até uma noite inteira de sono e descanso por causa de vagabundos tocando “funk” e praticando inúmeras barbaridades na rua, bares e até em áreas externas de suas residências. E não adianta fechar nossas portas e janelas, pois o barulho é produzido com o objetivo de se fazer ouvido por todos, em qualquer parte da casa, da rua ou do bairro. Crianças, idosos, doentes, portadores de necessidades especiais, absolutamente todas as pessoas de bem são agredidas moral e fisicamente por esse ABSURDO que alguns insistem em chamar de “lazer” ou “cultura”, a exemplo do Sr. Dafne Sampaio, almofadinha hipócrita que certamente não passa por esse problema.
No dia 21/09/2011, em noticiário exibido na parte da manhã pela tevê Record, o jornalista Sr. William Travassos, pessoa que admiro pelas observações coerentes, comentou reportagem referente ao absurdo do baile “funk” no Itaim Paulista. O profissional se equivocou ao afirmar que “não estamos querendo acabar com o único lazer do povo pobre da periferia”. Disse ainda que os “os coitadinhos” [alcunha atribuída por mim] precisavam de lazer. Lazer? Pobre? Como assim “pobre”? Praticamente todos os jovens que promovem esse tipo de baderna na rua têm pelo menos uma motocicleta de 150 cilindradas sempre nova. Isso pra dizer o mínimo, pois grande parte deles possui carros potentes e customizados com itens de luxo, peças e aparelhagem de som das mais caras. Tudo pela ostentação, sensação de poder e, claro, reprodução de “funk” no maior nível de volume possível, especialmente no período noturno. É comum ver jovens de 16 anos que nunca trabalharam na vida desfilando de Hyundai Tucson, VW Golf, Fiat Stilo, entre outros, além de motocicletas potentes caríssimas, pelas ruas do bairro. Dizer que esses vagabundos precisam de lazer é rir da cara do trabalhador honesto, que precisa suar e trabalhar por anos se quiser ter a possibilidade de comprar – em muitas parcelas – uma casa ou um carro.
Diga-se de passagem, quem não tem lazer é a pessoa de bem que, como já dito, tem o interior de sua casa invadido e estremecido por esses “gemidos e ameaças” todo o tempo. O que esses jovens precisam é de família, vergonha na cara e trabalho honesto. Há demasiada disposição e saúde para a realização de roubos, sequestros, homicídios, explosão de caixas eletrônicos e todo tipo de crime e violência. Já para trabalhar honestamente, há discursos batidos, desânimo, preguiça, acomodação, orgulho (!), vergonha, justificativas fáceis, hipocrisia, etc.
Obviamente, os moradores agredidos recorrem a diversos meios para resolver o problema, há pedidos ao emissor do barulho, solicitações educadas, brigas, discussões e o acionamento da Polícia Militar por meio do telefone 190. Embora haja o empenho e o trabalho belíssimo de parte da Polícia Militar na resolução do problema, como, por exemplo, os esforços do Comandante do CPAM-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano), responsável pelo Grande ABC, coronel Roberval Ferreira França, na grande maioria das vezes, a Polícia simplesmente não atende aos inúmeros chamados destas tantas regiões periféricas há anos e o ABSURDO se perpetua.
Na maioria das vezes, a Polícia Militar alega que há outras ocorrências de maior urgência a serem atendidas e que não “sobram” unidades para atenderem as ocorrências envolvendo “perturbação de sossego”. Mas é sempre essa mesma “desculpa” há anos! Não vou entrar no mérito dos inúmeros casos de propinas pagas a policiais corruptos, sobretudo nas áreas mais pobres, porque acredito que não haja solução, pelo menos em curto prazo, para este problema, e talvez nunca haja. Então peço, encarecidamente, em nome de todas as pessoas de bem desta cidade, que providências sejam tomadas para garantir que ao menos o direito ao sossego público seja poupado e que, apesar da violência, do tráfico e da corrupção, o cidadão de bem e sua família possam ao menos ter seus direitos à privacidade e ao sono preservados.
Falo em agressão física porque a propagação do som é física e sonora, fazendo vibrar em maior ou menor grau as paredes e vidros das janelas, assim como os interiores das casas próximas ou até relativamente distantes da fonte sonora. Agressão física porque envolve o órgão auditivo duplo (ouvidos), cuja função não pode ser “desligada”, estando involuntariamente exposto aos riscos ambientais sonoros advindos de fontes externas, mormente quando a reprodução do som é deliberadamente dimensionada no sentido de prejudicar e impedir o sono, o sossego e o descanso alheio, por meio de sua reprodução em número de decibéis muito acima daquele permitido por lei. Agressão física e também moral porque “funk” gera estresse e incentiva a violência contra a mulher, a criança e o cidadão comum, além de exercer clara apologia às drogas, ao crime, à prostituição e, indiretamente, à pedofilia.
Absolutamente ninguém pode ser obrigado a ouvir, involuntária ou deliberadamente, de dentro de sua própria casa, gritarias, gemidos, ameaças, xingamentos de toda ordem, batidas e barulhos estridentes e graves, acompanhados de efeitos sonoros irritantes e expressões repetidas à exaustão, por longas horas do dia e da noite, as quais, só pra citar alguns exemplos, vociferam aos berros termos e expressões como: “novinha, ela dá pra nóis que nóis é patrão, vô morá no cabaré, hei, cabarééé, hei, cabarééé, tá tarada, tá tarada.., ai meu cu, ai meu cu, ai meu cu, senta, senta, senta, ô djow, ô djow, ô djow, ô djow, rebolaaaaaannndo, o pai pensa que ela é virgem, mete encima, mete embaixo, mete em cima, mete embaixo, vai começá a putaria, putaria vem, putaria vem, orgia, orgia, orgia, sua mulher dá pra mim, eu vô lambê teu rêgo, etc., etc. e etecetera.

NINGUÉM PODE SER OBRIGADO A OUVIR ESSA AGRESSÃO! ISSO É UM ABSURDO SEM TAMANHO! Recado aos filhos e filhas das classes mais abastadas que ajudam a promover essa baixaria, se exibindo em carrões, barzinhos e festinhas de faculdade regadas à “funk”, bebidas alcoólicas e drogas: larguem de ser HIPÓCRITAS! Vocês não precisam trabalhar e não passam por isso, mas quando são incomodados por “perturbação de sossego” ou atingidos por assaltos, sequestros e homicídios, logo recorrem à Polícia e à Justiça, exigindo seus direitos [que todos merecem ter] e lamentando a falta de civilidade, respeito e bom senso entre as pessoas. Larguem de HIPOCRISIA! A ordem pública, o respeito e a civilidade entre as pessoas são bens da sociedade que não podem sucumbir à força de nenhuma vontade unilateral nociva. A arte, a diversidade e a democracia são ideais de uma sociedade livre, pacífica e desenvolvida, que pode [e deve] se expressar livremente e evoluir sem a necessidade do conflito, do desrespeito ao direito do próximo e da violência. Paz a todos.
Um paulistano.